Sunday, June 22, 2008

S. João do Porto



S. João do Porto, eremita natural do Porto, ( séc. IX ), viveu a sua vida eremítica na região de Tuy, em frente a Valença, tendo sido sepultado em Tuy. No séc. XVII ainda aí se conservavam as sua relíquias, de grande veneração entre os fieis, que acreditavam que S. João os salvaria das febres. Diz a tradição , que a cabeça de S. João do Porto, foi trazida pela Rainha Mafalda no séc. XII, para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa relíquia teria sido levada para a capela da " Santa Cabeça ", na Igreja de N ª Sra. Da Consolação, na Cidade do Porto. O facto da sua festa se ter celebrado a 24 de Junho talvez explique o facto de ter o seu culto sido absorvido pelo de S. João Baptista, cujo nascimento ocorreu no mesmo dia 24 de Junho e a que o povo dedicou através dos tempos forte devoção e grandes festas, mantendo-se ainda hoje muito viva a tradição das fogueiras de S. João de origem muito antiga, ao mesmo tempo que substituíam as festas pagãs do solstício.

Festas de forte caris popular, o S. João do Porto é uma festa que nasce espontaneamente, nada se encontra combinado, embora a festa se vá preparando discretamente durante o dia, é normalmente depois do jantar, constituído por sardinhas assadas, batatas cozidas e pimentos ou entrecosto e fêveras de porco na brasa, acompanhadas de óptimas saladas , jantar obviamente regado com vinho verde ou cerveja, mais modernamente. Findo o jantar, os grupos de amigos começam a encontrar-se, organizando rusgas de S. João, como são chamadas. As pessoas muniam-se de alhos pôrros e molhos de cidreira , actualmente as armas, são outras, mudaram para martelos de plástico, duros e ruidosos, mas que acabaram por ser bem aceites e hoje já fazem parte da tradição, Há alguns anos atrás, o S. João limitava-se a uma área da cidade que era constituída, pelas Fontaínhas ( Ponto nevrálgico ), R. Alexandre Herculano, Praça da Batalha, R. Santa Catarina, R. Formosa ou R. Fernandes Tomás, R. de Sá da Bandeira, R. Passos Manuel, Praça da Liberdade, Av. dos Aliados, R. dos Clérigos, Praça de Lisboa, e no retorno, subindo-se a R. de S. António, estava praticamente concluído o percurso obrigatório. A par deste percurso, que juntava para cima de meio milhão de pessoas, que tornavam as ruas pejadas de gente, e onde não há atropelos, as zaragatas são de imediato sustidas pelos populares, os beligerantes rapidamente selam a paz com mais um copo e uma pancada de alho pôrro de amizade. O S. João do Porto é uma festa onde ricos e pobres convivem uma noite de inteira fraternidade e onde a festa é constante. Nos bairros, a festa continua e as comissões organizadoras de cada uma mantém o baile animado até altas horas da madrugada. No tempo áureo do alho pôrro quem chegasse ao Porto vindo de fora, estranharia o odor espalhado pela cidade...efectivamente ela cheirava a alho.

Nos dias de hoje, o S. João espalhou-se pela cidade, além do seu palco tradicional, estendeu-se até a Ribeira, ás Praias da Foz , á Boavista e por ai fora. Vai as discotecas, aos pubs e bons restaurantes. Tornou-se mais cosmopolita e em alguns casos mais selectivo . Modernizou-se, sofisticou-se e de certa forma, acompanhou os tempos, até penso que se tornou mais jovem.



Mas muita da tradição ainda se mantém: Em barracas ou espalhados pelo chão lá estão os manjericos ( Planta tradicional do S. João ) , as tendas das fogaças, as farturas, o algodão doce, as pipocas, as barracas da sardinha assada e dos comes e bebes. Os matraquilhos, os carroceis, as pistas dos carros. As tendas de venda das louças de barro, das cutelarias, o tiro ao alvo e as tômbolas. Durante toda a noite, centenas de balões são lançados e muito fogo de artificio particular é queimado, pela meia-noite o tradicional fogo de artificio da Câmara Municipal, faz sempre furor pela sua beleza. No fim e já alta madrugada é ver os foliões procurarem as padarias onde o pão acabado de fazer e ainda quentinho vai confortar as barrigas para um merecido descanso.

A História de um Feriado

( Texto original, publicado na Revista Ponto de Encontro de Julho de 2001 )


Os festejos de S. João na cidade do Porto são já seculares e a origem desta tradição cristã remonta mesmo a tempos milenares. Mas foi só no século XX que o 24 de Junho passou a ser feriado municipal na Invicta, proporcionando um merecido dia de folia a milhares de tripeiros. E tudo graças a um decreto republicano e a um referendo aos portuenses, promovido pelo Jornal de Notícias. A história é curiosa e mostra o protagonismo que, já na altura, a Comunicação Social tinha no modus vivendi urbano. Estávamos em Janeiro de 1911 e a República Portuguesa dava os primeiros passos. A monarquia tinha sido destronada apenas três meses antes, com a revolução de 5 de Outubro de 1910. O Governo Provisório da República assumia a governação do país e, desde logo, começava a introduzir mudanças na sociedade portuguesa que espelhavam, muito naturalmente, os ideais da nova ordem republicana. Numa tentativa de implementar a nova ordem junto da população, o Governo Provisório redefiniu os dias feriados em Portugal. Por decreto, a República instituiu como feriados nacionais o 31 de Janeiro (primeira tentativa - falhada - de revolução republicana, em 1891, no Porto), o 5 de Outubro (instauração da República) e o 1º de Dezembro (restauração da independência em 1640), para além do Natal e do Ano Novo. Mas o mesmo decreto impunha, a cada município do país, a escolha de um dia feriado próprio: "As câmaras ou commissões municipaes e entidades que exercem commissões de administração municipal, proporão um dia em cada anno para ser considerado feriado, dentro da area dos respectivos concelhos ou circumscripções, escolhendo-os d'entre os que representem factos tradicionaes e característicos do município ou circumscripção". E foi com este propósito que a Comissão Administrativa do Município do Porto reuniu a 19 de Janeiro de 1911. Segundo o relato do Jornal de Notícias, o "velho e conceituado republicano, sr. Henrique Pereira d'Oliveira" logo sugeriu a data de 24 de Junho para feriado municipal. O facto não causa espanto. Afinal de contas, o S. João era, já na altura, uma festa com longa tradição na cidade do Porto. A primeira alusão aos festejos populares data já do século XIV, pela mão do famoso cronista do reino, Fernão Lopes. Em 1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António e, em 1910, um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D. Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).

In http://amen.no.sapo.pt/S.Joao%20do%20Porto.htm

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