E se em vez do carro e do avião, o Estado usasse a videoconferência para reuniões?
Por Nuno Sá Lourenço
É defeito profissional, talvez. O deputado Jorge Seguro Sanches trabalhou na multinacional Microsoft antes de entrar em São Bento. A experiência fez com que, chegado ao Parlamento, se tenha surpreendido com o facto de a máquina administrativa não estar a usar mais as potencialidades das novas tecnologias.
Seguro Sanches não percebe a morosidade do Estado português em adoptar um sistema tecnológico que implica poupança de recursos e tempo. Por isso vem questionando há meses o Governo sobre os esforços feitos para passar a "utilizar preferencialmente os serviços de telecomunicações mais económicos". Numa pergunta enviada ao Governo em Maio, o socialista e outros oito deputados do PS consideram "evidente que os serviços públicos ainda não introduziram práticas comuns no mundo empresarial, como a utilização de centrais telefónicas que usem VOIP".
Mas a pergunta transforma-se em proposta e defende que os funcionários públicos passem a usar mais vezes a tecnologia para reuniões que até agora requeriam deslocações. "Os serviços públicos ainda recorrem, em grande parte, à transmissão de informação e à realização de reuniões nos formatos tradicionais. Basta constatar a existência generalizada e periódica de reuniões com dirigentes distritais ou regionais, com a consequente deslocação de, pelo menos um dirigente, uma viatura e de um condutor."
Numa outra pergunta ao Governo, também em Maio, o deputado pretendia aferir junto do Ministério das Finanças se estava a ser aplicada a resolução do Conselho de Ministros de 2006 que recomendava que o pessoal dos gabinetes passasse a "utilizar preferencialmente a classe económica" em voos com duração mais reduzida. Aí questionava se estaria a ser feita "alguma avaliação" sobre outra recomendação já aprovada: "Que apenas podem ser realizadas as deslocações cujos objectivos não possam ser perseguidos através da utilização de novas tecnologias, designadamente correio electrónico, videoconferência ou videochamada."
Falta de estudos
Parte da resposta veio da Secretaria de Estado da Modernização Administrativa, através do vogal do conselho directivo da UMIC-Agência para a Modernização Admnistrativa, Gonçalo Caseiro. E demonstra que o assunto está a passar por baixo do radar dos serviços públicos. Segundo os dados da UMIC, em 2007 "aproximadamente 70 por cento dos organismos utilizam banda larga", ou seja, a infra-estrutura necessária para recorrer a estes sistemas já está implantada em grande parte da máquina administrativa. Mas sobre a questão de fundo - os esforços para substituir reuniões presenciais por teleconferência - a entidade responsável não sabe. Não há estudos ou estão ainda a ser feitos. Os poucos exemplos de aplicações são em nichos dos serviços públicos.
UMIC sem messenger
Gonçalo Caseiro apresenta os casos da utilização de sistemas VOIP no Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça, no Centro de Gestão da Rede Informática do Governo e na Agência para a Sociedade do Conhecimento. A título de exemplo, Agência para Modernização Administrativa não instalou ainda uma rede de messaging entre os seus trabalhadores. Parece que vai ser este ano que o vão fazer, ou seja, as entidades responsáveis por disseminar as novas tecnologias nos serviços públicos usam-nas, mas parecem ter dificuldade em transferir esse know-how para o resto da administração.
"Este é o tipo de política que devia abranger todos os departamentos do Estado", afirma Seguro Sanches ao PÚBLICO. "Somos o país europeu líder em serviços públicos online, já fizemos esse percurso, falta-nos agora dar este passo. Já só nos falta ganhar dinheiro com isto. E poupar dinheiro também", conclui.
in Publico
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